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INTERTEXTUALIDADE E POLIFONIA EM "TODO MUNDO EM PÂNICO 3"

F. A. SILVA¹, S. A. B. SCHIER²

¹ Acadêmico do Curso de Letras do CEULP/ULBRA. E-mail: flavioalves77@yahoo.com.br
² Mestranda em Análise do Discurso e professora do CEULP/ULBRA

V Congresso Científico CEULP/ULBRA

RESUMO:
Todo discurso é, essencialmente, constituído de outros discursos, com isso cada texto é uma manifestação de já ditos que podem ser apresentados de forma monofônica ou polifônica conforme suas funções ideológicas ao longo do tempo. O presente trabalho apresenta a análise de um filme que, tendo a paródia como elemento recriador, apresenta-se, a priori, como fonte de manifestação intertextual e polifônica. Tem-se como corpus deste, o filme Todo Mundo em Pânico 3. O conceito de Intertextualidade de Ducrot e de Polifonia de Bakhtin, fundamenta-o teoricamente.
Esta análise evidencia a intertextualidade e a polifonia na linguagem e em sua formação de enunciados, enunciadores e enunciações no discurso.

PALAVRAS-CHAVE:
Filme, Intertextualidade, Polifonia.

INTRODUÇÃO:
O texto não se restringe à palavra escrita podendo ser entendido como toda e
qualquer manifestação de linguagem sendo que todo e qualquer conhecimento é perpassado pela linguagem e só por meio desta pode ser organizado e aferido. Assim na linguagem cinematográfica, as cenas de um filme podem ser lidas como um texto e analisadas como tal. A análise de um filme pode evidenciar a intertextualidade e a polifonia na linguagem e em sua formação de enunciados, enunciadores e enunciações no discurso. A intertextualidade vista como uma relação implícita e/ou explícita com outros textos constituindo-se em um objeto heterogêneo, pois “todo texto é um
intertexto; outros textos estão presentes nele, em níveis variáveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis” (BARTHES 1974 apud KOCH, 1991). Com isso, segundo Koch (1991), ela pode se apresentar em sentido amplo e em sentido restrito e, nesta última, sob vários tipos (intertextualidade de forma, de forma e conteúdo, explícita e implícita, das semelhanças e das diferenças, com intertexto alheio, com intertexto próprio ou com intertexto de um enunciador genérico). A polifonia é a presença de diversas vozes no processo de interação verbal da linguagem, é, segundo Ducrot (apud Koch, 1991), as diversas perspectivas, pontos de vista ou posições que se fazem presentes no enunciados. Ducrot (apud Koch, 1991) considera dois tipos de polifonia. Um quando no mesmo enunciado coexistem mais de um locutor, e outro, quando coexiste mais de um enunciador no mesmo enunciado.

MATERIAIS E MÉTODOS:
O objetivo deste trabalho é analisar a como a intertextualidade e a polifonia se fazem presentes no filme “Todo mundo em pânico 3”. O método utilizado, para tanto,
foi a análise do filme juntamente com uma pesquisa bibliográfica inerentes à temática abordada. Teve como fundamentação a teoria da intertextualidade de Ducrot e da polifonia de Bakhtin (1992), em que a comunicação se efetiva pelo uso da linguagem de forma dialógica e, portanto, intertextual e polifônica.

RESULTADOS E DISCUSSÕES:
O filme Todo Mundo em Pânico 3 satiriza de forma
irreverente e hilariante os recentes sucessos de bilheteria desde “O chamado”, “Sinais”, "Matriz Reload”, “Os outros” até “8 mile – Rua das Ilusões”, além de marcos da cultura pop como o programa de TV American Idol. Tudo começa quando a apresentadora de telejornal Cindy Campbell descobre uma série de terríveis acontecimentos que ameaçam o planeta, envolvendo invasões extraterrestres, vídeos assassinos, assustadores círculos em plantações, profecias sobre o escolhido, crianças com olhares sinistros, rappers brancos ambiciosos e até mesmo uma discussão com Michael Jackson. Ao analise-se o filme Todo Mundo em Pânico 3, verificam-se as vozes exteriores, assim como outros textos que se manifestam em cada recriação de uma cena. O dialogismo é constitutivo da linguagem e perpassa por toda forma de constituição da linguagem, pois segundo Bakhtin (1992): O diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão uma das formas, é verdade que das mais importantes, da interação verbal. Mas pode-se compreender a palavra ‘diálogo’ num sentido mais amplo, isto é, não apenas como a comunicação em voz alta, de pessoas colocadas face a face, mas toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja (BAKHTIN, 1992). Com isso o filme “Todo Mundo em Pânico 3” (doravante denominado TMP3) apresenta-se como um discurso irônico e paródico, dialógico, intertextual e polifônico. O filme TMP3 apresenta uma intertextualidade, conforme Koch (1991) em sentido estrito, de conteúdo, pois o filme é constituído por cenas de outros filmes, fazendo uso de conceitos e termos comuns a uma área específica, o cinema. TMP3 traz em si a forma intertextual de forma e conteúdo ao parodiar outros filmes objetivando-se provocar o riso. Essa intertextualidade está presente de maneira explícita e implícita. A primeira está nas cenas do filme, que nos remetem a outros filmes, por serem todas, estruturalmente, cenas de outros, sendo dessa forma “o discurso de outrem na linguagem de outrem” (BAKHTIN, 1998). Já a segunda, apresenta-se nos motivos, objetivos que constituem o filme TMP3 como uma parodia cinematográfica. Neste filme são plagiados outros filmes e alguns gêneros pop’s, porém de maneira distorcida, pois “a paródia possui um caráter dialógico, dissonante e polissêmico” (FÁVERO, 1999). Ao parodiar outros filmes, caracteriza-se no filme a intertextualidade das diferenças por meio da qual “o texto incorpora o intertexto para ridicularizá-lo ou, pelo menos, refutá-lo, ou colocá-lo em questão” (Koch, 1991). A paródia cinematográfica TMP3 é a priori polifônica, pois segundo Brant (apud Rechdan, 2000) o texto irônico é essencialmente polifônico. Em TMP3 é subjaz, metalingüisticamente, o enunciado segundo Ducrot (apud Koch, 1991), no qual este só existe numa representação (no sentido teatral) da enunciação. O filme traz em si uma polifonia mascarada pela ironia, lugar em que encenam-se diversos enunciadores, vozes polissêmicas e dissonantes. O dialógismo existente em TMP3 apresenta este como uma teia, um “texto tecido dialogicamente por fios dialógicos de vozes que polemizam entre si, se completam ou respondem umas às outras” (BARROS, 1999). É essa relação polifônica tecida com outros filmes que possibilitam atribuir sentido ao filme TMP3. Nesta paródia cinematográfica apresentam diferentes vozes sociais que se defrontam, se entrechocam, manifestando diferentes pontos de vista sociais sobre um dado objeto, assume-se esses discursos e os discursos de outros filmes, mas eliminam-se suas seivas semânticas, transformam-se suas enunciações para distorcer seus enunciados dando a esses um caráter plurilíngüe, uma existência cíclica, o que se ratifica em SILVA (2006) “A paródia é metamórfica, plurilíngüe e dialógica, o que garante um processo de morte, vida e ressurreição [...]”.

CONCLUSÕES:
O filme Todo Mundo em Pânico 3 trata-se de uma paródia cinematográfica, em primeiro plano objetiva-se o humor, mas segundo Bakhtin (apud Silva, 2006) “o riso é ambivalente: alegre e cheio de alvoroço, mas ao mesmo tempo burlador [...]”. Com isso o riso almejado em primeiro plano mascara os demais semas encontrados no filme, mas não os elimina. O filme analisado demonstra a presença e a importância da intertextualidade e da polifonia na formação do texto. Suas funções semânticas possibilitam a compreensão cognitiva do texto, assim como seu uso ideológico. Novos sentidos surgem do filme/texto em conformidade com a posição em que se coloca cada enunciador (locutor e alocutário) frente ao enunciado, ou a condição em que se manifesta a enunciação. A intertextualidade apresentada em TMP3 dá-se entre diversos textos/filmes nele parodiados e é o que constitue seu roteiro, sendo este possível somente nessa teia intertextual estabelecida. A polifonia revela-se na paródia, que sendo o elemento (re)criador do filme o constitui em uma estrutura polissêmica, multideológica e plurilíngüe, o que ressalta as diversa vozes conflitantes existentes no filme.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BAKHTIN, Mikhail. Os Gêneros do Discurso. In. Estética da Criação Verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997, cap. p. 279-326.
___________. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 6 ed. São Paulo: Hucitec, 1992.
___________. Questões de Literatura e de Estética: a teoria do romance. 4. ed. São Paulo: Unesp, 1998.
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Dialogismo, Polifonia e Enunciação. In. Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade: em torno de Bakhtin. FIORIN, José Luiz; BARROS, Diana Luz Pessoa de. [orgs] 2 ed. São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1999. (Ensaios de Cultura, 7).
BLIKSTEIN, Izidoro. Intertextualidade e Polifonia: o discurso do Plano “Brasil Novo”. In. Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade: em torno de Bakhtin. FIORIN, José Luiz; BARROS, Diana Luz Pessoa de. [orgs] 2 ed. São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1999. (Ensaios de Cultura, 7).
FAVÉRO, Leonor Lopes. Paródia e Dialogismo. In. Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade: em torno de Bakhtin. FIORIN, José Luiz; BARROS, Diana Luz Pessoa de. [orgs] 2 ed. São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1999. (Ensaios de Cultura, 7).
FIORIN, José Luiz. Polifonia textual e discursiva. In. Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade: em torno de Bakhtin. FIORIN, José Luiz; BARROS, Diana Luz Pessoa de. [orgs] 2 ed. São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1999. (Ensaios de Cultura, 7).
KOCH, Ingidore G. Villaça. Intertextualidade e Polifonia: um só fenômeno?. D.E.L.T.A., VOL. 7, N° 2, 1991.
RECHDAN, Maria Letícia de Almeida. Dialogismo ou Polifonia?. Disponível em
http://www.unitau.br/prppg/publica/humanas/download/dialogismo-N1-2003.pdf. Acesso em: 26 de junho de 2006.
SILVA, Flávio Alves da. A metamorfose parodica dos cavaleiros: um breve estudo
comparativo. In. Jornada de Iniciação Cientifica, VI, 2006. Palmas. Ciência e Desenvolvimento Humano. Palmas. Ed. ULBRA. 2006, p. 424.

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2 Comments


Flávio,
Acabo de ler seu texto "Intertextualidade e Polifonia em TMP3" e adorei! Parabéns pelo belíssimo trabalho.


A análise com o filme TMP3 é genial, pois, facilmente pode-se identificar a intetextualidae e a polifonia

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